Fantasma do banheiro unissex também serve para pensar
- radarfeministablog
- 11 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
No final do segundo turno da corrida ao pleito presidencial, uma fake news, junto a tantas outras envolvidas com problemas de gênero, pautou o debate público, envolta em brumas: a questão do banheiro unissex. Podemos pensar sobre ela

Há tempos não escrevo no blog, desgastada com as implicações da conjuntura e até da próxima, com suas possíveis interferências na existência da minha vida e de familiares, não pelo Partido dos Trabalhadores, mas por ocasião do vice-presidencial, ex-governador do Estado de São Paulo. Há outra publicação sobre isso nesse blog. Na semana passada, começo de Novembro, fiquei por algumas horas sem esse blog, saiu do ar, também querem me tirar acesso ao Whatsapp e outras redes, como já aconteceu com uma de minhas contas do Instagram, radar-feminista, quando perdi rede com quase seis mil associados.
Volto a escrever por ocasião de problemas de gênero, temática que, frequentemente, têm sido objeto para fake news, especialmente na esteira do período eleitoral. Elas estiveram presentes na campanha de 2018, e em algumas das anteriores, do período pós-redemocratização. Neste último caso, sem que a palavra fake news estivesse em nosso vocabulário, período da história que a produção de conteúdo e sua propagação concentrava-se com a mídia hegemônica.
De acordo com essa tendência, podemos prever, se há eleição, é certo que teremos fake news para difusão de pânico moral sobre questões de gênero. Além do problema do aborto, no final do segundo turno dessa última eleição presidencial, a problemática de gênero voltou à tona a partir de uma publicação que atribuía ao PT e, consequentemente, ao então candidato Lula, o interesse em promover banheiros unissex nas escolas: uma fake news, instrumentalizada pela extrema direita, para causar pânico moral.
Tamanho o lastro da questão, o município de Curitiba, no final de Outubro deste ano, chegou a proibir a instalação do uso comum de banheiros por pessoas de mesmo sexo, em equipamentos públicos, por outro lado, esse objeto de fake news, em 2016 já havia sido objeto de debate, quando uma escola de Porto Alegre propôs, de maneira orgânica, a partir dos estudantes do 3º ano do ensino médio, um projeto piloto utilizando banheiro unissex, com intenção de minimizar as angústias dos estudantes LGBTQIA+ nessa fase da vida.
A publicação, que alastrou a fake news, não tinha, nem propunha, qualquer profundidade na discussão sobre os efeitos, em adolescentes, da segregação de gênero, dentre outros temas subjacentes ao problema. Dado o período curto da corrida eleitoral, frente aos inúmeros temas pautados, o então candidato Lula teve que desmentir o boato, objeto desse pânico moral, sem tempo e abertura para aprofundar a questão.
Ainda sim, a complexidade do país e sua desigualdade latente, expressa no contraste com as periferias e entre as regiões, torna quase necessário que esses debates, não apenas concernentes a pautas de costumes, mas também eles, sejam locais, alinhados aos problemas vividos. Conforme uma publicação da Piauí de meados de Outubro sabemos a quantidade de escolas públicas sem qualquer banheiro, quase 4 mil, segundo o Censo Escolar, divulgado pelo Inep.
Sem dúvida, a necessidade de que as escolas tenham ao menos um banheiro é uma discussão ainda mais urgente, afinal de contas, inviabiliza boas condições para os estudos, mesmo assim não invalida a outra discussão, sobre as complexidades das pautas de costumes, problemas de gênero e até sobre a instalação de banheiros unissex. O debate público franco, quando conduzido com rigor, é sempre promissor, desta vez, urge em prevenção e oposição a esse processo ativo de produção de desinformação em fantasmas envoltos aos problemas de gênero.
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