Experiências com dispositivos com efeitos racistas e misóginos, no contexto do golpe de 2016
- radarfeministablog
- 6 de set. de 2021
- 9 min de leitura
Apartadas de um sentido comum de sociedade, escolas públicas têm sido instrumentalizadas para vender subjetividades de mulheres negras progressistas. A partir daí, todo tipo de violência pode acontecer.
Sabe-se que o Estado brasileiro é caracterizado por resquícios de um pacto oligárquico, de ordem patrimonial, racista e patriarcal que, vez ou outra, se intensifica. Esse pacto operado geralmente por uma maioria conservadora, costuma tratar a gestão pública a partir de interesses privados, de modo a drenar a energia do corpo social, cerceando nossa liberdade, produzindo um choque entre igualdade e diferença e, por vezes, legitimando uma macro e micropolítica do ódio.
Nos últimos anos, ao menos desde as manifestações de junho de 2013, com todas suas implicações no âmbito nacional e internacional, temos visto um processo crescente de fortalecimento e legitimação do Fascismo que não se opera somente pelo alto, retirando direitos, como também tem minado a qualidade das relações sociais que estabelecemos uns com os outros.
Um episódio ilustrativo dessa ascensão do Fascismo é perceptível no contexto do golpe de 2016, quando os discursos dos parlamentares ao votarem a deposição da primeira mulher que tivemos como presidenta eram carregados de elementos misóginos. Naquela ocasião, houve até mesmo quem votasse em nome da memória de torturador, considerando que essa mesma presidente, em virtude de sua militância, já havia sido presa e torturada.
Não é apenas no plano dos costumes que a nova política se orienta, mas articula um agenda neoliberal, que atua retirando recursos de serviços públicos essenciais, como acontece nas áreas da saúde e da educação, desacreditando a ciência, precarizando o serviço público, além de negligenciar cuidados com nosso meio ambiente e com a crise sanitária que se instalara com a pandemia da Covid-19.
Nesse contexto, qual caminhamos para um processo de desmonte de políticas públicas e reorientação ideológica do projeto de governo, a vida humana perde cada vez mais o seu valor em virtude da lógica monetária. Não há identificação programática com as pautas identitárias e no fortalecimento e respeito à nossa diversidade cultural. Esse contexto é o pano de fundo mais recente da minha história, que trata um pouco da sujeição que mulheres negras de orientação ideológica progressista podem estar expostas em um contexto de forte recrudescimento do autoritarismo.
Em 2013, iniciei o mestrado em Sociologia, no Rio de Janeiro, com intenção de abordar questões de gênero na política institucionalizada. Os trabalhos de conclusão das disciplinas que apresentava despertavam reações histéricas em alguns professores. Nesse contexto, já chegaram a dizer: “se falar para pular, ela pula”. Enquanto, dentro do meu universo subjetivo, eu não estava fazendo mais que produzir pensamento. Não cheguei a terminar esse curso. Voltei para São Paulo, onde moro, entrei no curso Técnico em Dramaturgia da SP Escola de Teatro, financiado com recursos públicos sob a gestão do governo do Estado de São Paulo (detalhes dessa experiência são narradas neste vídeo).
O tema do primeiro módulo do curso era Dinheiro e Poder no Brasil. Apresentei ao meu grupo uma proposta com objetivo de construir uma dramaturgia que pusesse em diálogo o Racismo Científico por figuras de alteridade, considerando alguns arquétipos de religiões de matrizes afro-brasileiras. Um artigo de Adélia Mathias (2017) trabalha a relação entre religiões afro-brasileiras e literatura, mostrando que, quando há essa relação na literatura afro-brasileira, desponta uma relação de respeito à ancestralidade, cultura, resistência e tradição, uma afirmação da alteridade.
Como a autora salienta, “a produção de conhecimento por afro-ameríndios sofria e ainda sofre violenta repressão, e/ou tem sua legitimidade colocada em dúvida” (2017, p.53). Assim, embora não tivesse pretensão de verdade, pois que era arte e não ciência que tentava àquele momento, meus textos não eram considerados como produto final, mas serviam de substrato para criações extremamente machistas e preconceituosas.
Naquele momento, de forma bruta, eu estava aprendendo que o poder econômico influenciava não apenas na produção das Ciências, mas também na produção de Arte, ainda que financiada com recursos públicos. As imagens abaixo ilustram esse processo de apropriação do pensamento e das ameaças que, entrelaçadas ao conteúdo da minha proposta na SP Escola de Teatro, não apenas passei àquela altura, como vim a passar depois de um tempo.

Imagem de uma arte de uma peça de teatro, realizada em 2018, em teatro próximo à minha casa. No topo à esquerda, uma peça negra partida ao meio. No centro uma trans vestida de vermelho é ameaçada por um homem que veste terno.

Diálogo trocado por Facebook com um dos parceiros do grupo de trabalho, na SP Escola de Teatro.

Outro diálogo com mesmo integrante do grupo.

Minha avaliação diante a proposta de dramaturgia apresentada por dois colegas de curso.

Texto disposto no site, logo depois, com o mesmo "oi" utilizado em meu e-mail. O texto é da coordenadora do curso, Marici Salomão.
Em outubro do ano de 2014, apareceu a oportunidade de fazer um curso de Iniciação à Produção de Documentário que ocorreu do dia 13 ao dia 24. Este período antecedeu o segundo turno das eleições presidenciais, um pouco antes da operação Lava Jato iniciar.
Durante o período que estávamos no curso, fomos convidados pela escola para assistir “Hipóteses para o amor e a verdade”, em cartaz na 42ª Amostra Internacional de Cinema, ao qual carrega algumas imagens bastantes ilustrativas, como uma mulher grávida e nua, sob a noite, embalada em papel filme e o um personagem caracterizado pelo diretor da escola atirando em uma criança negra.


Deluze (1992) em “Post-scriptum sobre as sociedades de controle” diz que a sociedade do século XXI põe em prática uma prisão aberta funcionando sob mecanismos e modulações variadas, velozes e contínuas. Isso consiste no que Beatriz Preciado tem chamado de novo “colonialismo globalizado” (2010, p.10), articula-se em fluxos, redes e hibridações, com o apoio cibernético e intervenção tecnológica no corpo e na subjetividade.
Preciado (2010) informa que, nesse modelo de violação, já não se trata de matar ou deixar viver, mas de produzir um estado intermediário, um estado de vida vegetativo, para o qual não há limites e pode calcular te permitir viver mais ou menos. Os cálculos são para que a vida seja anômica, os laços sociais desprovidos de solidariedade.
Ainda durante o curso técnico em dramaturgia, na SP Escola de Teatro, algumas coisas aconteceram, como atos performativos que vieram instituir qualidade diferente às relações sociais que estabelecia naquele contexto.
Um formador do curso, Alessandro Toller, convidou os dois participantes do meu grupo, Christian e Vinicíus, por meio da entrega de uma dramaturgia que tratava do mercado financeiro para situações que vieram a drenar minha energia naquela ocasião.
Depois disso, um dos participantes do grupo, Christian, mencionava palavras vulgares dirigidas a mim, como “vagabunda”. Tenho a impressão que ambos participaram, logo em seguida, da criação do filme “O capitalismo é fabuloso”, na 31ª Bienal de São Paulo, que ocorreu em dezembro de 2014. Também é importante dizer que, durante o curso de Iniciação à produção de documentários, tanto eu quanto alguns professores compartilhamos de alguma sensação de medo, emanada por parte de alguns profissionais que eventualmente visitavam a sala.
Uma tradutora, chamada Silvia, reclamava no intervalo do curso que já não tinha mais empregada doméstica, como se estivesse insinuando que o meu lugar não era ali, ao mesmo tempo que me mandava ir estudar, como se não estivesse tentando fazer isso naquela instituição.

Publicação de colega do grupo, dizendo que realidade e ficção se misturam novamente.

Lista de participantes do curso de Iniciação à produção de documentários, ofertado pela SP Escola de Teatro
Todo esse investimento, voltado a conter nosso desenvolvimento livre, produtivo e integrado, poderia ser direcionado a mudanças mais responsáveis, trazendo uma vida melhor para o maior número de pessoas possíveis. No entanto, tais ações indicam um momento delicado da nossa atual conjuntura, o qual não se restringe a problemas locais, mas se coadunam com um movimento global de ampliação dos conflitos.
Depois da sair dessa escola, passei por situações extremamente violentas no bairro, com produção de misofonia por passantes, tiro em direção ao ouvido direito com arma que não posso identificar, mas que comprometeu minha audição, dentro outros investimentos que tentaram, como ainda tentam, me fragilizar e circunscrever minha esfera de atuação ao espaço doméstico.
Artigo do diretor da SP Escola de Teatro, Ivam Cabral, chamado “Eu, bipolar”, publicado à época e tirado do ar para publicação em momento posterior, passava recomendações de como deveria me portar: “tomando remédio” e “somente me preocupando com o futuro”, como se o problema da violência que continuo sofrendo, desde então, fosse psicológica.

Texto do diretor da escola, Ivam Cabral, com algumas "dicas" sobre o que viria a acontecer e como eu deveria me portar. O texto foi republicado posteriormente, com data alterada.
Além desse artigo, outras peças de teatro "Tudo o mais permanece o mesmo" e "Eles eram eles mesmo?", foram encenadas no final de 2014, no teatro do Sesi, abrigado no prédio da Federação das Indústrias de São Paulo, lugar onde a coordenadora do curso de dramaturgia da SP Escola de Teatro, Marici Salomão, também ofertava aulas. Nesse mesmo lugar, foi instalado um pato gigante, com a frase "não vou pagar o pato", campanha iniciada em 3 de setembro de 2015 que culminou, posteriormente, no golpe de 2016.

Um excerto de uma das peças, disponibilizada no Youtube, mostram jovens se revezando em uma mesa, enquanto uma mulher queima ao fundo. E, na outra, “uma família aguarda na sala de espera de um consultório enquanto acontecimentos externos invadem e mudam, ou não, o encontro com o médico, criando um jogo de aparecimentos e transgressões. A montagem instaura uma condição coeteris paribus, em que algo varia e tudo o mais permanece o mesmo, investigando a limitação da condição humana."
Ainda durante o curso de Dramaturgia na SP Escola de Teatro, fui questionada por um estudante sobre a profissão da minha mãe. Tempos depois ele publicou um texto de dramaturgia no Facebook sugerindo que ela adoeceria. O que ocorreu, de fato, neste momento, em 2021. À época eu não sabia muito bem como lidar com toda essa situação, por isso, não cheguei a salvar o texto.
Em 2018, prestei processo seletivo para o curso técnico em Comunicação Visual na ETEC Dra. Maria Augusta Saraiva. Só pude ficar no curso até escrever o primeiro texto, atividade de uma das disciplinas. Depois disso, minha cabeça voltou a queimar de maneira bem intensa.

Arte extraída de uma busca no google pelo nome da escola técnica que estudei em 2018.
Chego em 2021 completamente cercada em um processo frenético de controle dos fluxos por grandes corporações, tendo tentado, até então, tão somente ter a liberdade de estudar e trabalhar. Enquanto tudo isso ocorre, essas outras artes, mais recentes também conversam entre si. Na primeira, o atual presidente oferece uma caixa da medicação Cloroquina para uma ema, e, na seguinte, uma moça sorri pintada de palhaça, com o rosto pintado de branco.


Depois dessa passeata minha cabeça voltou a queimar de maneira bastante intensa.

Durante todo esse processo, recorri à algumas instituições buscando justiça e proteção, conforme ilustram as imagens abaixo, as quais me negaram ajuda.


Em imagem de reportagem da BBC de 30 de junho de 2021, aparece uma mulher negra sendo vacinada por um homem igualmente negro. Ao fundo, o papel de parede com o Zé Gotinha usando um bigode que lembra Hitler.

Reportagem da BBC alerta sobre a síndrome de guillain-barré associada à vacina. No canto direito, uma japonesa arruma sua cama.

Na imagem uma mulher pega seu capacete, ao lado de uma moto capotada. Ao fundo, do lado direito um carro com a placa DST.

Uma arte de um evento aparece o nome AMEBA.

Uma arte de reportagem do Globo sobre HPV, aparece personagens desenhados com a cabeça menor que o corpo.



Propaganda em jornais virtuais mostram implante dentário ao centro, um senhor branco à direita e, à esquerda, dentes soltos à mão.

Imagem mostra pasta de dente suja, com embalagem nas cores da bandeira do Brasil.

Outra arte indicando que essa política genocida investe, também, contra nossa saúde bucal.


Publicação de espelho representando batalha vencida contra o câncer.

Anúncio das redes contra a ditadura mostra jovem presa com edema cerebral, cegueira e envenamento durante a prisão.

Uma imagem extraída das redes, mostram um pintinho com a cabeça virada para a direita, sangrando

Arte mostra personagem sem cabelo, e outros com cabeça desproporcional ao tamanho do corpo. Minha cabeça vem sendo queimada, frequentemente, desde 2014, depois de tomar um tiro no ouvido direito, ao sair de uma biblioteca no centro de São Paulo.

Cachorro sarnento aparece em matéria da BBC sobre "chupa cabra".

Arte com pernas disformes, apontando risco de hanseníase por artifício da extrema-direita.

Depois de comer um produto da Elma Chips minha boca por dentro ficou espessa. Dizem que é sapinho.

Minha boca também ficou espessa depois que comi um bolo da Sodiê.

Essa imagem de mãos machucadas por trabalharem com radium circulou pelo meu feed de notícias. Todas as noites tem sido submetida a jatos de algum produto químico, que possivelmente seja radium, pois que deixou meus pés com algumas feridas.


Em 2015, acertaram meu pé direito com um tiro de arma que não posso identificar, apenas senti uma agulhada. É provável que ele passe por alguma oxidação.

Nem dormir em cama limpa já não é mais possível.

Imagem de show de bandas indica que governo Bolsonaro e Governo do Estado de São Paulo, como mostram as provas desse perfil, em relação com essa última imagem, intencionam machucar uma das minhas pernas com lepra.

E-mail recebido no dia 19 de novembro de 2021 menciona "Microbiology Medical".

E-mail recebido no dia 18 de novembro de 2021, indica possibilidade de problemas fisiológicos circulatórios promovidos por essa política genocida.
Esses linhas que seguem, agora, foram fruto de atualização desse texto em 16 de dezembro de 2021. Dá-se em virtude da tentativa de me internarem, por denunciar essa violência política contra mulheres pretas progressistas do Partido dos Trabalhadores. E, também, por colaborar no projeto de desenvolvimento do app pólis digital, junto ao Instituto Lula.
As artes abaixo mencionam que a intenção é me internar e comprometerem minha saúde em hospital público, a ponto de que venha ter que usar fralda geriátrica. Parece ser uma comunicação, mas na verdade, é uma opção pelo fascismo que se disfarça de abertura ao diálogo.
Como documenta-se aqui, se por ventura algo vier a acontecer, terá sido obra do investimento do governo de São Paulo, sob responsabilidade do Dória do PSDB, e Bolsonaro, na gestão do governo federal.



Essa imagem abaixo documenta a aplicação da Covid-19, dentre outras outras doenças, como arma química.

O atual presidente do país nunca negou seu apoio à ditadura, e o apoio a práticas de violência contra militantes com orientação ideológica à esquerda.


Há outra parte bastante significativa dessa história, qual relaciona-se com o projeto do golpe de 2016 e as arbitrariedades cometidas na farsa da operação Lava Jato, nesse link. Nessa parte da história dou destaque, também, à prática genocida desse projeto que veio a assassinar minha mãe, em 13 de novembro de 2021, em hospital público do Estado de São Paulo.
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