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Racialização e gênero na sociedade neoliberal, tudo muda para permanecer o mesmo

  • radarfeministablog
  • 4 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura

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Nossa sociedade se constitui por relações sociais conflituosas entre grupos diferentes. Esses conflitos se modulam a partir da produção reiterada da racialização e do gênero que atribuem posições subalternizadas às mulheres não brancas.


Não é preciso recorrer a dados estatísticos para perceber que, nas sociedades neoliberais da ordem patriarcal, às mulheres não brancas são destinadas tarefas como as de cuidado e limpeza. No Brasil que tem no passado um processo de escravização, isso de dá de forma um tanto pior.


Danièle Kergoat em Dinâmica e Consubstancialidade das Relações Sociais (2010) chama atenção a um paradoxo das relações sociais de sexo que evidencia o quanto a melhora progressiva da situação da mulher no mercado de trabalho ocorre com a intensificação da divisão sexual do trabalho. "Tudo muda, mas tudo permanece igual".


Na seara da dinâmica das relações sociais, conforme a participação da mulher no mercado de trabalho aumenta, as segmentações horizontais e verticais que distribuem trabalhos diferentes aos homens e as mulheres persistem, liberando os homens e as mulheres de alta renda dos afazeres domésticos.


É preciso considerar que conquanto muitos casais na atualidade se disponham a dividir as responsabilidades pelas tarefas de casa, tarefa que geralmente tem que ser gerenciada pelas mulheres, essa é uma relação intersubjetiva e não uma relação social, como defende Kergoat.


Com essa diferença, é possível evidenciar uma distinção entre as relações concretas que estabelecemos no cotidiano e àquelas que opõem grupos distintos, operando a partir da dominação, exploração e opressão que vulnerabiliza as mulheres, como podemos notar a partir das desigualdades salariais, da dupla jornada de trabalho, e do maior risco de sermos vítimas de violência.


A autora utiliza a metáfora do nó para mostrar que racialização, classe e gênero se co-produzem mutuamente:


"a relação de classe reforçada pelos processos de naturalização, de racialização e de 'generização' do trabalho de care; a racialização, à qual os empregos domésticos estão particularmente sujeitos, reforça e legitima a precarização (e, portanto, as relações de classe) e a 'generização'; a relação de gênero exacerba a relação de classe na medida em que a feminização dessas últimas é um fenômeno novo para o corpo social e, portanto, para o qual ainda não há uma resposta, e reforça as relações de raça pela sua naturalização"


Como podemos perceber com a citação, a produção do trabalho racializado e de gênero opera produzindo vulnerabilidades. É preciso desnaturalizar essas imbricações que se retroalimentam, de modo a produzir um novo sujeito histórico enfim com possibilidade de construir a igualdade de condições a partir da qual nossas sociedades modernas fingem se constituir.



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